sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Porquê ser criativo?

Tenho trabalhado com algumas empresas interessantes de construção civil. Desde multinacionais até pequenos empreiteiros locais, tem sido interessante conhecer realidades tão diferentes no mesmo setor. Há várias histórias engraçadas que foram acontecendo ao longo da minha colaboração com estas empresas. Há uma história que recordo com agrado, talvez por me fazer soltar sempre uma gargalhada. Nos anos de 2002/2003 houve um aumento significativo da procura de certificar as empresas deste setor pela qualidade (ISO 9001). Muitas destas empresas aproveitavam para introduzir alguns conceitos de segurança, que também por essa altura teve um crescimento significativo.

No âmbito da implementação do Sistema de Gestão da Qualidade numa destas empresas, estavam previstas ações de sensibilização e formação. Como um dos grandes desafios do momento era assegurar o uso do capacete pelos colaboradores, foi combinado falar não apenas dos aspetos da qualidade em obra, mas da importância da atitude, complementado com algumas ações concretas, para melhorar as condições de segurança em obra.

Combinou-se o dia e a hora. 8h00 da manhã e 30 minutos para apresentar os conceitos e debater o tema antes de irem na carrinha para a obra. Foi uma situação absolutamente caricata, mas à distância, absolutamente deliciosa, pois os Monty Python tinham vindo a Portugal, a uma pequena terra e a uma pequena empresa. À volta da mesa de reunião estavam presentes o gerente da empresa, o encarregado das obras, 3 pessoas de leste que não sabiam uma palavra de português (talvez soubessem 1 ou 2 daquelas que se aprendem de imediato em qualquer idioma) e 2 portugueses que já tinham "matado o bicho" várias vezes naquela manhã, para assegurar que o "bicho estava bem morto".

A comunicação foi feita verbalmente, pois não havia grandes condições para equipamento auxiliar e exigiu grande criatividade, nomeadamente no que respeita à linguagem não verbal. Acredito que mesmo assim, grande parte da mensagem não tenha sido assimilada.

Claro que houve a necessidade de reforçar várias vezes a mensagem em obra.

Para ajudar à festa, nessa altura havia muito o conceito de que quem usava capacete "não era homem", era um pouco "mariconço", o que era inadmissível para homens de barba rija que matavam o bicho logo de manhã.

Houve muitas dificuldades em criar o hábito de colocar o capacete logo à entrada da obra, o que obrigou a pensar no problema. As soluções criativas foram chegando, pois o problema do capacete tinha que ser ultrapassado e, entre as várias soluções, surgiu uma que recordava o tempo do "Liceu": durante os intervalos, quem dissesse determinada palavra perdia pontos e chegava a haver cachaços para os piores desempenhos. Além disso, todos controlavam todos, mas só o facto de esquecer que não se podia dizer a palavra e dizê-la, era punição suficiente para qualquer adolescente que se pretendia afirmar. A forma como se resolveu o problema do capacete, foi com um jogo em que quem quer que fosse apanhado, tinha que pagar uma determinada quantia para no final do ano poderem jantar todos. O primeiro a ser apanhado foi o gerente, que deu o exemplo e pagou de imediato.

O jogo não deu para o jantar, porque todos passaram a usar o capacete ao fim de 2 ou 3 escorregadelas, mas sei que tiveram um jantar pago pela empresa.

Pedro Paiva

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